sexta-feira, 13 de abril de 2018

A cidade do Sol... autor Wagner Vinicius Lemos, romance Orbe opúsculo


A cidade do Sol...
Contos ou romance prosa narrativa 
autor Wagner Vinicius Lemos

terceiro capítulo 

O Comunista e o Evangelho de Cristo!
O sobrinho Vinícius, sentou-se à mesa; nem sequer agradeceu pelo alimento que iria comer.
Era costume da família agradecer antes das refeições; ela lhe serviu o prato.A princípio tomava a sopa, com as colheradas alternadas, mas tomava a sopa rapidamente; e, com uma expressão em sua face de fome. Parecia que ele, estava há dois dias, sem comer.Após o prato, o hospede mostrou os dentes voltando-se para a irmã do finado e saudoso pai. Deliciava-se na força nutritiva do macarrão e, do jerimum, enquanto dava noticias de sua irmã. O povo potiguar tem fama, de ser papa jerimum. Ou comedor de abóbora como dizem noutros estados.Trouxe os pães a criada Rosendo e, breve perguntou-lhe se queria ovos fritos. Voltando-se, o pequeno velhote, com o olhar fixo, e vestido no terno de poliéster e riscado, ornado com gravata de seda.Apresentou-se assim, aquela noite, o sobrinho e hospede da senhora Lemos.Sem tirar seus olhos do prato com sopa, respondeu que não carecia de fritar ovos. Na outra extremidade da mesa, na sala de estar, a dois passos da cozinha; estava a tia lhe sondando. Naquele momento, sua tia olhava-o fixamente. Com um olhar de relance, e com a cabeça baixa como se quisesse esconder sua preocupação ou desconfiança.Essa ocasião, apareceu a sala, com o vestido de cor preta, de estampas com flores de cor dourada, muito esmerado por sinal, roupa de grã-fina; dera-lhe aparência de uma aristocrática.

A viúva se maquiava extremamente, nas ocasiões, que ia sair e se ausentar para ir aos cultos na Igreja. A senhora Lemos, pedira ao sobrinho, aquela noite, antes de ir para o culto Batista; que ele lhe tirasse algumas fotografias na sala de estar segurando o evangelho, a bíblia.

Noutra ocasião, era o domingo. A anfitriã Lemos, convidou e mandou-o se arrumar; tomar o banho, depois, colocar o terno, para lhe acompanhar a Igreja que frequentava. Naquele instante, o sobrinho então, respondeu calmamente:
__Não acredito nessas besteiras de Céu, e inferno, Deus e o Diabo! Na terra... Leio Schopenhauer...Não tia, não irei perder tempo com essas ladainhas de igreja. Sou adepto filosofia do existencialismo, e marxista pois, meu pai me ensinou...

__O quê! Isto, é muita ousadia, me responder assim, dessa maneira...seu ingrato. É um desaforo, uma coisa dessa. O senhor, está aqui, em meu apartamento...o acolhi, quis receber com todo gosto e satisfação, e ainda, tem a audácia de dizer que é ateu! Valha-me Deus! Se Itu, estivesse aqui!__exclamou a senhora e tia, muito descontente com as ações do sobrinho.
Cerrou a porta, ela que não suportou os seus argumentos sem fundamento.
O sobrinho, quando do tempo de mocidade, fora materialista dialético; na escola, envolveu-se com o marxismo; filiou-se ao partido comunista, era pertencente aos movimentos estudantis, mesmo sendo funcionário publico do estado, manifestou seu descontentamento com a politica econômica do Brasil, aquele período. Chegara a participar de luta de classe, em greves de comerciários, de transporte urbano engrossando a multidão, que se manifestava a favor dos sindicatos.
Seu pai já não aguentava mais de tanta vergonha que lhe dera aquele tempo, o calouro comunista. Ele somente quis lhe dar desgosto.
E desde então, suas ideias e ideologia liberal, por razão do seu pai advogado, e secretário de estado; bem conceituado na sociedade de então, o deixara entre a cruz e a espada. Era o dilema, que teria que escolher se iria a Igreja, ou confessar sua ideologia de ateu; aquela noite, após vinte seis anos de sua militância nas causas proletárias. __Que maçante!

Tenho a lembrança muito verdadeira, que vivíamos uma inflação infernal que nos perseguiram extremamente. Houve na segunda metade dos anos oitenta muito desemprego; e também, para acrescentar ao desengano ou decepção que vinha sofrendo o povo brasileiro; a recessão. Ela, que trouxe como consequência baixo crescimento econômico e social, período de pouca produção, declínio da atividade produtiva e do mercado.
Certamente, o desastroso efeito, de toda essa crise, fora o agravamento, a falta de produtos; e de alimentos na mesa do trabalhador.

Por esse motivo, ele rebelde, rebelou-se e, manifestou o apoio a doutrina comunista.
Era um Stalinista, Leninista; e também, era militante, engajado na luta pela causa proletária; e durante alguns anos estudou tudo sobre socialismo cientifico de Engels, Karl Marx. Na sede do partido gostava de ouvir o hino da internacional socialista, e fazia referência ao Luís Carlos Prestes e sua Coluna revolucionária nos discursos de classe, de sala de aula.
__Já estou indo, fique com Deus!
Depois de minutos, tinha cessado todo o ressentimento, a desaprovação da senhora Lemos.
__Adeus! Brevemente a senhora sei que virá. Estarei, aqui lendo, não darei trabalho. Espera irei chamar o elevador, precisa de ajuda para levar os doces, e salgados...
Fingira-se diante da família, ter ideias ou pensamento liberal: frequentava restaurantes, e ambientes burgueses, vestia-se com rigor, e com muita elegância e vaidade para quem pertencia a militância e, ideologia comunista. Na sala de jantar. Nos olhares da matriarca, a sua tia, estavam escrito que ela, não se agradava com a vida que levava o sobrinho.
Foram aborrecimentos que tivera com ele, que vivia os dois meses, aquelas semanas imóvel, dormitando como se estivesse numa morbidez extremada. Mórbido era seu aspecto, sua aparência de um corpo franzino de forma raquítica. Quase não desfrutou da viagem para visitar os parentes. Ora, em seu apartamento, ora na casa de outra irmã de seu pai, na zona norte.








Em completa ociosidade, levantando-se tarde, não saindo do apartamento, nem sequer para 

acompanha-la aos cultos. Lembrança do passado, fúteis acontecimentos, mais é bom lembrar-me.

Nessas ferias, o parente, e sobrinho abandonava suas responsabilidades, cada vez mais se refugiava no ócio, nos passeios ao amplo Shopping a vaguear, ou então sentar-se numa poltrona da Saraiva, a percorrer o folhetim.
Os dias, as semanas, se passaram sob a revolta de toda família em amparar o parente vindo de Mato Grosso, que se dizia escritor.

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